Um Brinde ao Diálogo
Um simples brinde traz valiosas lições a quem pretenda ouvir além do tilintar das taças e degustar algo mais que o saboroso licor da bebida. O primeiro ensino, que aliás motiva este post, está na celebração. E ontem, dia 16 de julho, o CAW Diálogos pôde comemorar um mês de navegação pelas águas da internet.
Abro um curto parêntesis para festejar essa terra virtual de onde minam ideias e conversas! A quem concebeu, executou, aperfeiçoou, participou, vivenciou e se alimentou de férteis diálogos jurídicos, políticos, sociológicos, econômicos, históricos e até artísticos e culturais, nosso “Viva”!
Mas o brinde ainda guarda segredos que precisam ser revelados. Outro ensino está na necessária aproximação entre duas ou mais pessoas. Sem encontro, não há brinde nenhum. O brinde é o diálogo mudo entre gestos, gostos, preferências, valores…
Ah! Os valores… O terceiro e último ensino que cuido de tratar aqui recai sobre eles, os valores. O brinde requer harmonia de movimentos, sintonia, coerência. É bem verdade que tais atributos já são próprios ao diálogo em si: um questiona, outro responde; de um lado argumentos, do outro contra-argumentos; teses, antíteses… A ágil estruturação do pensar exige equilíbrio entre premissas e conclusões.
Ainda assim, um brinde autêntico, com borbulhas a se desprenderem e subirem à superfície ― como um favor da química para dar graça às taças que se esbarram e aos braços que, volta e meia, se entrecruzam ―, requer os tais valores. Seja no mais rude barro ou no mais requintado cristal, o fluido que for servido deve ser bebido!
Certo do excesso de linguagem metafórica que já inebria o caro leitor, sigo ligeiro para um exemplo prático. Um oferecimento da Justiça do Trabalho:
No dia 27 de novembro de 2013, a 8ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho negou provimento ao agravo de instrumento em recurso de revista, interposto pelo Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Paragominas – SINTRACAR. O recurso reiterava o pedido formulado na ação civil pública; pleiteava indenização por dano moral coletivo pela “utilização de uniforme com frase e logomarcas de empresas clientes”.
Basta clicar aqui para ter acesso à decisão; mas faço questão de esmiuçar o imbróglio. A entidade sindical não se conformava com a divulgação de produtos e serviços de fornecedores comerciais da empresa Leolar nos uniformes de seus empregados. A estampa das camisas ainda exibia os dizeres “Eu amo a Leolar”, o que, segundo o ente de classe, “não corresponde necessariamente ao sentimento dos empregados, o que lhes teria ocasionado ofensa de ordem moral”.
Lesão a direito de personalidade? Não houve nenhuma, segundo o entender do juízo da 1ª Vara do Trabalho de Parauapebas, do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região e do Tribunal Superior do Trabalho. Assim também entendo, ao lado de alguns “cawdialogueiros” ― suponho. Apesar do peso diferenciado dado à expressa anuência dos empregados em utilizar as tais camisas em festas promocionais, o que ponho debaixo de nossa lupa é o sentido de “vestir a camisa”. E brindo o nosso debate com um desafio trajado de pergunta: há coerência entre nossos discursos e nossas ações?!
São numerosos os que leem, seguem, pregam ou simplesmente simpatizam com textos religiosos dos quais podemos pinçar a frase que resiste aos tempos ― “amai os vossos inimigos”. Todavia, causa repulsa em muitos a ideia de dizer que ama a empresa em que trabalha. No máximo conseguem dizer que amam o trabalho…
Volto à analogia do brinde para tornar mais cálido nosso debate. Brindar sem beber seja lá o que for em estado líquido, azeda a melhor moral!
Questiono a mim mesmo se não seria cabível à reclamada brandir uma ação judicial em face do sindicato, por desmotivar seus associados a brindar o trabalho oferecido pela empresa e, por certo, pela reprovável lide temerária. Quanto mais, quando, diante do consentimento dos empregados, o único dano moral que se vê foi sofrido justamente por aquela que dispôs de seu capital para dar emprego.
Mesmo com o sustento retirado do preço pago pelo trabalho contratado “de forma livre e desembaraçada, sem vícios sociais ou de consentimento”, conforme a bula do Direito das Obrigações, o obreiro se ofende por levar no peito uma curta declaração de amor à empresa.
A síntese da crise moral que assola as sociedades é a incoerência entre o que se fala e o que se faz. Para revertê-la, hoje se aclama que a Ciência Jurídica deve se armar com a munição dada pela Moral e pela Ética. O argentino José Roberto Dromi apregoa a “Constituição do por vir”, onde reine o culto à verdade, transparência, solidariedade, consenso, integração espiritual, universalização da dignidade da pessoa humana…
Antes, é preciso que esses valores sejam resgatados à nossa vida comum, ao dia a dia! Se a bebida é quente, é para ser servida quente; se fria, sirvamo-la fria. Já as concessões e licenças são mornas, coniventes com a corruptela, instigadoras da grande corrupção, em descompasso com a ordem.
Portanto, se é para brindar, vamos beber! A não ser que tenhamos destilado veneno na bebida alheia… O que não aconselho a ninguém!
O que comentar se não for para elogiar esse brilhante texto e convite a um brinde às coisas da vida?
Parabéns, D, Menezes.
Tive e tenho bons professores!
É muito bom voltar ao convívio deles, Corbo!
Um brinde aos professores!
Deixe-me fazer justiça, Fernando: o brinde é uma ideia sua!
Eu apenas havia sugerido um bolo para a comemoração.
Um colírio para os meus olhos e ouvidos. Um enorme prazer brindar com você, D. Menezes, pela seus brilhantes artigos, tão prazerosos quanto as borbulhas no melhor champanhe francês. Não ouso sequer comentar o seu artigo para evitar falar alguma bobagem e quebrar esse delicado cristal que colocastes sobre a nossa mesa de debates. Farei o seguinte, então. Palmas. Palmas. Palmas e mais palmas.
Não sou um cara de me envaidecer, mas estar nesse espaço com vocês, Márcio…
Um brinde à amizade!
E por enquanto os diálogos prosseguem com brindes. É isso mesmo?
Vamos dialogando e brindando. E assim teremos conversa para muito tempo.
Brindo com vocês! Este espaço é um terreno fértil e fonte de muita inspiração!
Brindemos, Andressa!
Tim Tim.
Alguém falou em brindar? Em comemorar? Beber champanhe francês? Então vamos ao TIM TIM!!! Parabéns pelo “mesversário”, aos idealizadores deste projeto, aos colunistas e suas brilhantes matérias. Em pensar que esse projeto é apenas um bebê que já nasceu com maturidade e com objetivos audaciosos, e que, por aqui, já passaram poetas, repentistas, pensadores e debatedores. Imaginem quando esse bebê se tornar criança?