Quem é simples necessariamente precisou dominar o ofício em que trabalha. Apoderou-se do clássico, transitou por tendências e modismos, até construir sua própria arte. O que é simples não é fácil. Singular é o que é; excepcional, nome próprio, não admite plural. É único, incomparável, sem igual.
Faz tudo pelo ímpeto de dar expansão à sua alma e, sem querer querendo, faz nascer o novo, o original, o genial. Quando percebe que deixou de ser considerado um louco para ser admirado, se surpreende como uma criança. Se lhe entendem, confirma: isso, isso, isso. Se não lhe compreendem, recolhe-se a seu barril.
A simplicidade não é conhecida pelos arrogantes e egocêntricos. Tudo que é singelo, do topo à raiz, produz grandes feitos; são astúcias, com as quais ninguém contava. Reconhece que chorar é tão natural como uma necessidade fisiológica. A onomatopeia é a mesma de quem se dirige ao banheiro e faz seu pi-pi-pi-pi-pi, sem se acanhar com isso.
A perfeição é um peso aos ombros da pessoa simples. Portanto, prefere administrar suas imperfeições, tratando-as da forma que melhor conhece: o modo mais simples que há. Então, as expõe publicamente, fazendo com que achem graça do que para os mais pomposos seria a maior das desgraças.
A vida é simples assim. O que parece ser a morte é simples invisibilidade. Efeito das pílulas de nanicolina.