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A teoria da ação comunicativa de Habermas é apenas a cereja do bolo.

Biólogos, arqueólogos, ou antropólogos e historiadores, até psicólogos e neurocientistas. Esse grupo tem razões o suficiente para discordar. Evidentemente, cada um prefere “sua” ciência em detrimento das outras, o que por si só já dá ensejo a muito ruído. Mas sobre uma questão não divergem: o homem se diferenciou das demais espécies pela sua capacidade comunicativa. O espetacular livro “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”, de Yuval Noah Harari, fala por todos. De animal insignificante o ser humano subiu ao topo da cadeia alimentar pelo poder da comunicação.

Dissipem os pensamentos afoitos de que a linguagem não é privilégio da humanidade. De fato, não o é. Mas como o Homo sapiens não há igual. Harari sustenta, em linguajar bem equilibrado para acadêmicos e leitores curiosos, que a melhor explicação para a vertiginosa ascensão humana repousa na teoria da fofoca. Pode parecer que o doutor em história pela Universidade de Oxford perdeu o juízo em meio às palavras do livro. Mas a obra não se tornou best seller internacional por acaso. O livro não se resume a falar da fala humana. Além disso, muitos cientistas, como dizíamos, de biólogos a neurocientistas, aprovam a tese.

Os primeiros sapiens podiam se comunicar com superioridade aos outros animais tramando estratégias de caça e fuga. Mas a sua extraordinária vantagem, cujo alcance tem implicações até os dias atuais, dizia respeito a confabular sobre quem seria digno de confiança ou não. Por isso, nossos ancestrais, ainda caçadores-coletores, conseguiam se reunir em mais de centenas numa mesma tribo. Nossos primos de primeiro grau, os chimpanzés ou Pan troglodytes, se agrupados em número da ordem de três algarismos tocam o maior fuzuê. As grandes sociedades são originalidade humana.

Da fofoca ao pé do ouvido, cochichando sobre quem merece ou não credibilidade, evoluímos ― sem perder o velho hábito ― na elaboração de mitos religiosos, regras de jogo, ficções jurídicas, redes sociais… Multidões se encontram em estádios de futebol e compram na Amazon.com sem nunca terem se conhecido, sem mesmo terem se visto antes. A partir de uma “ordem imaginada”, que todos acreditam seja real, e não apenas ideal, povos inteiros juram amor à bandeira nacional, fazem eleições de seus dirigentes, reverenciam sua Constituição ― e, num encontro religioso, cantam hinos de louvor, rendem homenagem a escrituras, seguem ritos sagrados. Isso tudo a nível mundial.

A linguagem em si é baseada numa estrutura lógica relativamente simples. O que fazemos dela é o que surpreende. Podemos ver regiões inexploradas; mundos, sóis e galáxias longínquas; civilizações de Elfos, Hobbits e Na’vis ― com sua própria língua e outras histórias sobre novas histórias.

O acaso surge do nada, consubstanciado pelo elemento natural.

Se o acaso vier com o pensamento estaremos criando a porta de uma ficção social.

Nessa hipótese, cria-se o ambiente do imaginário, pensado, preparado e esperado.

Esses ritmos afastam o inesperado. Não se pode pensar o inesperado.

Se pensar é existir, como dizem alguns filósofos copiosamente, o acaso deixar de ser possível.

E se acaso não nos conhecemos, como poderíamos dar vida ao nosso pensamento.

Nesse caso, qualquer outra forma de um encontro seria fruto do acaso, impensável, contudo.

O mundo é do acaso.

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