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Tudo o que nos cerca tem data marcada para se extinguir. Na natureza, a transitoriedade predomina; é absoluta. Parece haver uma espécie de lei natural da destruição. Porém, trata-se de uma transformação permanente, uma sucessão de vidas sobre vidas. Estabelecendo uma corrida contra o tempo, a humanidade tomou uma grave decisão, que perdura há séculos: lutar para sobreviver, mesmo a custo de outros homens, de outras espécies vivas, do próprio planeta, estendendo ao máximo sua existência e saboreando o que quiser antes de exalar o último suspiro.

Houve um povo, o único no Ocidente, que desprezava a morte. Enquanto os romanos cobriam-se de bronze e ferro, os célticos ou gauleses despojavam-se de suas vestimentas e combatiam de peito aberto. Orgulhavam-se de seus ferimentos como sinais de sua coragem no combate, mas os consideraram, em si, apenas rasgos em invólucros perecíveis.

Em um de seus cânticos, exultavam que a alma passa, rapidamente, a animar outros corpos em mundos novos, que a morte é somente o meio de uma longa vida. Não temiam o desenlace e colhiam disso sua maior felicidade. Seus sacerdotes, que também atuavam como magistrados, chamavam-se druidas. Seus cultos tinham realização no seio de florestas, no festejo das árvores, dentre as quais sobressaía o carvalho, representativo da imortalidade. Reencarnacionistas, planejavam suas vidas como um preparo para novas existências.

Em lugar dos prazeres efêmeros, forjavam seus destinos ao ferro do dever cumprido e ao fogo do sacrifício do egoísmo e de todas as paixões. Identificavam suas vidas à trajetória da Terra, o grande viajor deslizante por um único caminho, na admirável disciplina de quem segue o rumo traçado pela Vontade Suprema. Comunicavam-se com os familiares que já haviam atravessado o pórtico da morte. Sabiam o que lhes esperava além do túmulo pelos hábitos edificados ao longo do tempo.

No início do século XV, uma virgem de 18 anos, nascida em Domrémy, demonstraria a pujança do povo celta, ao conduzir a França para fora do jugo inglês, no curso da Guerra de Cem Anos, que provocaria profundas transformações na vida econômica, social e política do Velho Mundo, anunciado a transposição da Idade Média para a Moderna. Sob a inspiração de vozes que a guiavam à frente de um exército composto apenas por homens, o assombroso patriotismo de Joanna d’Arc lhe custaria o martírio na fogueira em que ardeu viva, mas também perfumaria as tropas francesas com a mesma intrepidez dos primeiros gauleses.

Segundo Lavousier, “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. O grande postulado da ciência nos assegura que não há morte a ser temida, mas apenas ciclos de transformação num vórtice de progresso sem fim, que tornam reais os versos da canção que diz:

“Seja como for

Mas seja sempre o meu amor perpétuo

Onde estiver esteja

Onde está

Meu peito aberto.”

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