Pai Nosso ao vigário
O ditado popular “ensinar Pai Nosso ao Vigário” serve para recolocar as pessoas em seu lugar. Lembra outro brocardo: “não vá o sapateiro além da chinela”, para sugerir humildade, contenção e modéstia. Mas a gente não aprende. Não resisto a comentar algo que acontece com bastante frequência. É o tom das homilias em cerimônias que poderiam servir para chamar novas ovelhas para o rebanho, já que a messe é grande…
As missas de sétimo dia se transformaram num acontecimento social. Grande número de pessoas a elas comparece e nem todas – ousaria dizer, muito poucas – são frequentadoras assíduas das missas domingueiras. Não participam da liturgia, não se ajoelham, não sabem responder ao sacerdote.
Bem por isso – ou apesar disso – os sacerdotes deveriam se valer dessa oportunidade para atrair mais fieis. Fazer homilias sintéticas, mas eloquentes. Confortar a família. Mostrar que a Igreja é solidária com a perda.
Nem sempre é o que acontece. Ainda recentemente, em missa bem concorrida e repleta de autoridades, a celebração poderia ter sido mais eficiente. A retórica deve ser aprimorada. O tom de voz, o momento adequado à ênfase, o fio condutor da fala. Mensagem insossa e sensaborona afasta aqueles que poderiam restar seduzidos pelo pronunciamento. É o que muitos oficiantes de outros credos conseguem: a mágica da comunicação, o treino da oratória, as técnicas de persuasão.
O Padre Antonio Vieira já propunha o aprimoramento do pregador. No Sermão da Sexagésima, há uma lição que deveria ser lida por todos os encarregados de transmitir a mensagem evangélica. Não basta o conteúdo ser consistente e bom. A forma de se comunicar também é importante. Às vezes, compromete a transmissão, que não toca o coração de quem ouve.
Lembro-me de ter assistido em Nova Iorque a várias homilias do Cardeal O‘Connor. Eram três minutos, mas quem o ouvia ficava a pensar naquilo. Sabia repetir depois o que fora dito. O Papa Francisco também tem o carisma da palavra. Fala singelamente, atinge o coração de quantos nele enxergam o representante de Cristo neste Planeta.
Precisamos motivar nossos pastores, para que o Evangelho se propague e faça da Terra o início do Céu. Afinal, o exemplo do Cristo não está superado: contava estórias, fazia com que todos se interessassem pelo final. Basta retomar o caminho que Ele ensinou.