Em Plena Forma aos 100 Anos
O centenário e a vitalidade do colosso da Música Popular Brasileira
Há pessoas que vivem de um modo muito particular. Não seguem modismos. Pelo contrário ― ditam os rumos da moda. Mas agem com naturalidade; não esperam quem lhes venha no encalço para render bajulações. Nenhuma moldura enquadra bem o seu retrato, exceto aquela que for artisticamente original.
Após 100 anos do seu nascimento, dos quais, em 60 quase completos, esteve pisando em solo brasileiro, até deixar seu corpo no subterrâneo e legar à cultura do seu povo a sentimentalidade de marchinhas e sambas-canção, Lupicínio Rodrigues ainda é único.
Porto-alegrense, bedel da Faculdade de Direito da UFRGS ― aquele que inspeciona e disciplina o corpo discente e docente na universidade ―, compôs e cantou a traição e o amor, as fraquezas do homem enjeitado pela mulher. Fez-se inventivo para contornar a própria dor, a dor que desmentiu o boato da fragilidade do sexo oposto. E a chamou, pela primeira vez, de dor-de-cotovelo, pelas noites a fio que o bruto não amado atravessa com os cotovelos fincados na mesa ou no balcão de um bar, bebendo no mesmo copo, servido sem parar, na faina de apagar a flama intensa que lhe devora o raciocínio e a hombridade de quem duvida que a paixão pode escravizar.
Sua alegria estava na roda de amigos, seu público predileto. Ainda doou seu talento ao clube do coração, entregando à posteridade o hino do Grêmio, ao lado de uma coletânea de mais de uma centena de canções.
Diz-se que outras centenas de composições de Lupicínio se perderam. Certo é que sua arte fulgente ainda emite o mesmo brilho das estrelas distantes, cujo ocaso não impede sejam contempladas na noite espessa em que o rádio mergulhou, com ritmos e batuques que, tomados por suposta música, insistem em encobrir o céu de nossos ouvidos.
Ainda asim posso ouvir: enquanto intérpretes e aplicadores do Direito, o que temos a ver com Lupicínio Rodrigues? Recorro a Pablo Picasso, que já nos fiou a resposta:
“A arte lava do espírito a poeira da vida diária.”
Limpos pela boa música, cumpre-nos inovar na rotina e exercer o melhor Direito, que ainda há de surgir pelo nosso modo muito particular, sem seguir modismos…
Foi uma bela iniciativa escrever sobre Lupicínio Rodrigues, um dos mais talentosos artistas da música brasileira, e regravado por inúmeros outros artistas, em absoluto reconhecimento do seu talento.
Foi você quem me inspirou, Fernando! Realmente, o centenário do Lupicínio não poderia passar em branco.