Chegará o dia

Chegará o dia

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A política do governo de estimular o transporte egoísta de veículos automotores já está mostrando seus frutos podres. As cidades se tornaram espaço automobilístico envenenado, com o trânsito que mata – 140 mil mortes em 2013! – mais aquelas perdas não computadas porque não são imediatamente associadas ao carro.

Doenças pulmonares, câncer de todas as espécies, depressão, síndromes as mais diversas. Só tardiamente se descobre a bicicleta. E, de um dia para outro, pretende-se que a cultura do carro, individualista e autista, seja substituída pelo culto à saúde para aquele que pedala. As rodovias estão saturadas. No Estado de São Paulo elas constituem verdadeiro “tapete”.

Bem cuidadas, nada ficam a dever às similares do mundo civilizado. Mas já não conseguem fazer o tráfego fluir. O movimento nas rodovias cresceu 548% nos últimos 15 anos. A Bandeirantes, que prometeu um canteiro central pleno de árvores, para garantir a reposição do oxigênio, fulminada pelo CO2 e outros gases maléficos expelidos pelos automóveis e caminhões, já conseguiu eliminá-lo e foi aberta uma quinta pista.

Tudo é leito carroçável e tudo igualmente lotado. A previsão é de que em 2030 ela seja convertida num verdadeiro estacionamento. Assim como a Anhanguera e as outras rodovias paulistas. Ninguém viu isso quando abandonou a ferrovia, que dava tão certo que o emprego na extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro era considerado ideal em cidades servidas pelos trens.
Agora se fala em retomada de ligação por trilhos entre a capital e Campinas.

Muitas promessas foram feitas e não obtiveram cumprimento. Onde está o “trem bala”, que era uma das linhas mestras da gestão federal? Mais um aceno: em 2015 se abrirá uma PPP – Parceria Público-Privada – para um trecho de 134 km, saindo da estação Água Branca em direção a Americana, com paradas em Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos, Campinas, Sumaré e Nova Odessa.

Como prometer não custa nada, há também a intenção de fazer o trem chegar a Santos, Sorocaba e Vale do Paraíba. Quando me lembro do que eram os trens há algumas décadas e hoje o que fizeram de nossas ferrovias, a vontade é de chorar. Mas choraremos de verdade quando não pudermos mais usar os carros e as rodovias forem transformadas em estacionamento a céu aberto. Chegará o dia em que o pesadelo será realidade.

VIA Renato Nalini
Sou Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Docente universitário. Membro da Academia Paulista de Letras. Autor, entre outros, de Ética da Magistratura (2ª ed.), A Rebelião da Toga (2ª ed.) e Ética Ambiental (2ª ed.).

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