A podridão humana

A podridão humana

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Ninguém pode recusar os benefícios da informática, da eletrônica e das redes sociais. Permitem-nos a comunicação instantânea com qualquer pessoa e em qualquer parte do mundo. Mas tudo tem ao menos dois lados. A mesma teia propiciadora de contatos afetivos é aquela que nos enreda em triste situação.

A comprovação de que a miséria humana está em todos os espaços, em todas as gentes. Nós, adeptos da web, agora temos de nos acostumar com a presença crescente da “dark web” ou da “deep web”. A chamada “deep web”, a rede profunda, é a parte da internet insuscetível de ser detectada por buscadores como o Google, porque não tem links direcionados a ela.

Serve para ocultar, intencionalmente, os sites que pretendem continuar anônimos, para melhor ferir o semelhante. Esta parcela é chamada a web escura: não é acessada pelos navegadores tradicionais. E para que servem deep e dark wesbs? Para vender maconha (31%), remédios proibidos (21%), LSD, metanfetamina, cogumelos, heroína, sementes e videogames (5,3% cada um desses “produtos”).

Mas não é só. Essas redes escuras e profundas também estão à disposição de quem quer contratar assassinos, por 45 mil dólares. Um estupro fica mais barato: 7 mil dólares. Surras para deixar uma pessoa paralítica está à disposição por 30 mil dólares. A pedofilia também navega pelo mundo dark, inclusive mediante o uso do “crowdfunding”, ou vaquinha virtual.

Pessoas se unem e cada qual fornece uma parte do dinheiro que será utilizado para a criação de um site especializado em prodigalizar pedofilia entre os enfermos que a ela se dedicam. O maior problema de tudo isso é que as operações não são rastreáveis, como na internet. À medida em que a informática avança, também se especializa a maldade humana, pois a podridão faz parte desta miserável natureza.

Não há prenúncio de mutação genética hábil a fazer do ser humano aquele bom selvagem, o homem idílico de Rousseau, pronto a auxiliar o seu semelhante e a fazer o bem. Na verdade, parece que Hobbes é quem estava com a razão: o homem é o lobo do homem. E, pior do que isso, é um lobo sujo, pervertido e cruel.

Sou Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Docente universitário. Membro da Academia Paulista de Letras. Autor, entre outros, de Ética da Magistratura (2ª ed.), A Rebelião da Toga (2ª ed.) e Ética Ambiental (2ª ed.).

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